domingo, 19 de janeiro de 2014

NIETZSCHE: Nós aeronautas do espírito!



Extraído do livro Aurora do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, Nós aeronautas do espírito, fragmento que reafirma a lucidez desse grande pensador demasiado humano, é uma conclamação a nos lançarmos no infinito de nossa humanidade, pelo desejo de voar cada vez mais longe, como pássaros audazes que não se detém sobre o mar, pois quer transpor o velho pensamento ocidental, para, deixando de ser camelo, transforma-se em criança, e pela transmutação dos valores aprendermos a ser super-homem.


 

 Todos esses pássaros audazes, que voam ao longe, ao mais longínquo – certamente! Em algum lugar não poderão ir mais longe e pousarão sobre um mastro ou um mísero recife – e, além do mais, tão gratos por esse deplorável pouso! Mas quem poderia concluir disso que adiante deles não há mais nenhuma descomunal rota livre, que eles voaram tão longe quanto se pode voar!

Todos os nossos grandes mestres e precursores acabaram por se deter, e não é com gesto mais nobre e mais gracioso que o cansaço se detém: também comigo e contigo será assim! Mas que importa isso a mim e a ti! Outros pássaros voarão mais longe! 

Esta nossa compreensão e confiança voam em competição com eles, para além e para o alto, ergue-se a prumo sobre nossas cabeças e sobre sua impotência, às alturas, e de lá vê a distância, antevê os bandos de pássaros muitos mais poderosos do que somos, que se esforçarão na direção em que nos esforçamos, e onde tudo ainda é mar, mar, mar!

E para onde queremos ir? Queremos passar além do mar? Para onde nos arrasta esse poderoso apetite, que para nós vale mais do que qualquer prazer? Mas por que precisamente nessa direção, para lá onde até agora todos os sóis da humanidade declinaram?

Talvez um dia dirão de nós, que também nós, navegando para o ocidente, esperávamos alcançar umas Índias  - mas que nosso destino era naufragar no infinito? Ou, meus irmãos? Ou? 

Adaptado por: Adão Lima de Souza.

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