segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

E APOIS! – COPA DA MORTE: ACIDENTES OU INCIDENTES?

OS “ELES” QUEREM NOS FAZER CRER que os níveis elevados de mortes por acidentes – ou seriam incidentes – do trabalho são perfeitamente normais, no Brasil. E que as ocorrências derivam de culpa exclusiva do trabalhador em não observar as normas de segurança ou, então, por consequência do acaso. É o caso das construções de estádios para a Copa, em que passa de 230 o número de mortes, superando com margem inalcançável o registro de vítimas dos países sedes desde 1970, no México. Enquanto isso as grandes empreiteiras superfaturam seus lucros devido à economia feita com a relativização dos procedimentos de segurança e a ausência ou insuficiência de equipamentos de proteção individual e coletivo para o trabalhador brasileiro. 

Diferentemente, dá-se, porém, com os pequenos ambulantes escalados para venderem suas “mingongas”  nas imediações das arenas. Forçados a atender padrões onerosos de higiene se quiserem trabalhar honestamente, como no caso das Baianas do Acarajé, em Salvador, obrigadas a abandonarem procedimentos tradicionais de feitura do quitute para se adaptarem ao paladar exigente dos convidados dos “Eles” e da FIFA. Ao passo que esta se matem conivente com o trabalho insalubre e periculoso nos países sedes, quando não escravocrata como no caso do Catar, próxima sede do Mundial.

Diante disso, ouvir de uma pessoa leiga: “Se no Brasil se impõe regras rígidas de higiene e segurança para evitar indigestões causadas pela “comilança” de quitutes exóticos, mas, ao mesmo tempo, flexibiliza normas imprescindíveis à integridade do trabalhador da construção de estádios de futebol, a fim de garantir a ganância de empreiteiras corruptas, então está sacramentada a insignificância do cidadão perante o Estado Brasileiro”. Os construtores e outras pessoas letradas a serviço dos “Eles” dirão que, pela envergadura e importância de um evento como a copa, o brasileiro precisa doar sua cota de sacrifício, porque a partir de agora o mundo verá o Brasil de forma respeitosa.

E quanto aos familiares dessas vítimas da ganância e da negligência, abandonados à própria sorte porque, no Brasil, a ocasião definida pelos “Os Eles” é quem determina, conforme os interesses em jogo, que lei deve ou não ser respeitada,  entenderão eles,  algum dia, que por ser o sujeito pobre apenas uma peça nesse macabro jogo de concentração de riquezas, o Estado tem legitimidade presumida para aniquilá-los, uma vez que os desvalidos sempre são legalmente matáveis?  E que, quando se fala em proteção ao trabalho, quer-se, ao mesmo tempo, dizer que somente são viáveis as medidas de segurança que não importem em entraves para o progresso?

Por essas e outras, é que a relação capital e trabalho no Brasil foi sempre perversa. Pois, contribui de maneira decisiva e cruel para ampliar o abismo entre empregados e patrões, locupletando estes e condenando à miséria quem precisa vender sua força de trabalho. Enquanto isso, vai-se convencendo a famigerada classe média acrítica dos discursos pré-fabricados pela grandiloquência “Dos Eles” , a fim de que o trabalhador se resigne ante as mortes evitáveis na construção de estádios para o deleite e manutenção do “status Quo” de uma classe parasitária e indiferente ao sofrimento das famílias vitimadas pelo desprezo e o lucro voraz.


ENTÃO, como se dizem os tecnocratas: “O progresso exige do povo sacrifício e perseverança”, além do mais, não é, conforme profetizou o estandarte do futebol brasileiro, com hospitais e obediência às Leis trabalhistas que se faz uma invejável Copa do Mundo, e, sim, com arenas imponentes e faraônicas, ainda que a custa de vidas de honestos pais de famílias. Entretanto, temos um consolo: O Catar supera nosso número de 234 mortos. EU É QUE NÃO ACREDITO MAIS NOS “ELES”. E VOCÊ?

domingo, 23 de fevereiro de 2014

ISTO É OLHO SECO!

A banda paulistana Olho Seco foi formada em 1980 por Fábio (vocal), Val( baixo), Redson (guitarra)  e Sartana(bateria).E, em 1982, a banda participou do Grito Suburbano, primeira coletânea de bandas punks brasileiras, e do festival O Começo do Fim do Mundo, ambos marcos do início do movimento punk no Brasil.

Já em 1983 lançam o EP Botas, Fuzis, Capacetes, que foi muito bem recebido e rendeu à banda o convite para participar de diversas coletâneas internacionais como Welcome to 1984, promovida pelo fanzine punk Maximum Rock´n´Roll.

Depois, em 1985, seu EP de estréia é reeditado em LP como um split com a banda Brigada do Ódio. Lançando somente em 1987, o álbum Os Primeiros Dias.., com gravações originais de demo-tapes de 1981 e 1982. Mais tarde esse álbum é reeditado em CD, incluindo faixas de demo-tapes gravadas em 1982 e 1983.

Em 1988, lançam o EP Fome Nuclear com o estilo musical mais voltado para o thrashcore extremamente veloz, que se vai ao extremo no seu primeiro álbum Olho por Olho, pela Cogumelo Discos, em 1989.

Algum tempo depois a banda se desfaz. Porém, em 1992 o primeiro EP é novamente relançado como um split-LP, dessa vez com a banda Fogo Cruzado. Mais tarde, em 1995, a banda Ratos de Porão grava uma versão da música "Olho de Gato" e outra da música "Falsa Liberdade" no álbum Feijoada Acidente?


No ano de1996, Fábio se junta a Mingau, Marcos e Arnaldo e lançam o CD "Haverá Futuro?", com algumas músicas inéditas. Após a gravação do CD, a banda para novamente.

No início de 1998 o Olho Seco volta a tocar. Com Fábio da formação antiga, além de Jeferson no baixo, Marcos na guitarra e André na bateria (membros da banda Agrotóxico), se apresentam por diversas cidades brasileiras.

Um ano depois, em 1999, fizeram pela primeira vez uma turnê europeia, com 25 shows em 9 países, num total de 37 dias. O Olho Seco iniciou sua turnê em Amsterdam na Holanda, seguindo para Alemanha, Suécia, Dinamarca, Áustria, Eslovênia, Itália e Espanha, finalizando em Portugal.

Após seu retorno ao Brasil, o Olho Seco fez uma participação especial no show de lançamento do álbum-tributo a eles, intitulado Tributo ao Olho Seco, onde as mais expressivas bandas hardcore punk brasileiras, além de Força Macabra da Finlândia e Cripple Bastards da Itália fizeram versões de suas músicas.

Nesse álbum, há uma música gravada pela formação original da banda, composta especialmente para esse lançamento, chamada "Crise da Fome".

Em 2000, o Olho Seco volta ao estúdio (pela primeira vez, ainda com a formação original) para gravar uma participação no álbum-tributo à banda finlandesa Rattus, editado pelo selo finlandês Fight Records. No mesmo ano, os Inocentes (banda) registram uma versão de "Sinto", do Olho Seco, em seu disco de covers "O Barulho dos Inocentes"

Em 2011, o Olho Seco voltou aos palcos e participou do Festival Punk na Páscoa, no Hangar100 em São Paulo.


Discografia

Álbuns:
Botas, Fuzis e Capacetes (EP, 1983)
Olho Seco (EP, 1984)
split c/Brigada do Ódio (LP, 1985)
Os Primeiros Dias.. (EP, 1987)
Fome Nuclear (EP, 1988)
Olho por Olho (LP, 1989)
split c/Fogo Cruzado (LP, 1992)
Haverá Futuro? (CD, 1996)
European Tour 1999 (CD, 2010)

Principais compilações:
Grito Suburbano (EP, 1982)
Hardcore or What? (K7, 1982)
O Começo do Fim do Mundo (LP, 1983).

Por: Adão Lima de Souza


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

BUKOWSKI: O Coração Risonho

As algemas do mundo existem porque as desejamos mesmo que inconscientemente. Por isso, aprendamos a nos esquivar dos grilhões, sejamos corajosos para viver nossa própria vida. Nisto se resume a liberdade. Viver intensamente a vida que nos pertence sem medo nem ofensa à liberdade do outro. Isto é o que nos ensina Charles Bukowski neste poema corajoso e belo.


Sua vida é a sua vida.
Não deixe que ela seja esmagada na fria submissão.
Esteja atento.
Existem outros caminhos.
E em algum lugar, ainda existe luz.
Pode não ser muita luz, mas ela vence a escuridão.
Esteja atento.
Os deuses vão lhe oferecer oportunidades.
Conheça-as.
Agarre- as.

Você não pode vencer a morte, mas você pode vencer a morte durante a vida, às vezes.
E quanto mais você aprender a fazer isso, mais luz vai existir.
Sua vida é a sua vida.
Conheça-a enquanto ela ainda é sua.
Você é maravilhoso, os deuses esperam para se deliciar em você.


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

RIMBAUD: O Espectro do Homem Livre.


Rimbaud, poeta francês do século XIX, influenciou a literatura, a música e a arte modernas. Era conhecido por sua fama de libertino e por uma alma inquieta, viajando de forma intensiva por três continentes antes de morrer aos 37 anos de idade.

A Eternidade

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.


Sobre Rimbaud disse Henry Miller, em A Hora dos Assassinos: Acho que existem muitos Rimbauds neste mundo afora e que esse número aumentará com o passar dos anos. Também acho que o tipo Rimbaud vai eliminar, do mundo futuro, o tipo Hamlet e o tipo Fausto.

Ademais, até que o velho mundo desapareça por completo, o indivíduo 'anormal' tende a ser cada vez mais a regra. O novo homem só se descobrirá quando terminar o conflito entre a coletividade e o indivíduo. Aí então veremos o tipo de homem em sua plenitude e esplendor.

Canção da Torre Mais Alta

Mocidade presa
A tudo oprimida
Por delicadeza
Eu perdi a vida.
Ah! Que o tempo venha
Em que a alma se empenha.

Eu me disse: cessa,
Que ninguém te veja:
E sem a promessa
De algum bem que seja.
A ti só aspiro
Augusto retiro.

Tamanha paciência
Não me hei de esquecer.
Temor e dolência,
Aos céus fiz erguer.
E esta sede estranha
A ofuscar-me a entranha.

Qual o Prado imenso
Condenado a olvido,
Que cresce florido
De joio e de incenso
Ao feroz zunzum das
Moscas imunda.
.

E APOIS! – SUPERSECRETARIAS: EFICIÊNCIA OU RETROCESSO?

OS “ELES” QUEREM NOS FAZER CRER que a melhor forma de tornar eficiente a Gestão Pública é, ainda, apostar em práticas superadas de centralização das decisões. É o caso do Município de Petrolina, em que diante da ausência de projetos eficazes à melhoria da prestação de serviços ao cidadão, optou-se por mudanças pontuais na estrutura administrativa do município, criando-se supersecretarias que como resultados práticos trarão apenas a restrição dos espaços decisórios à participação de um número maior de atores sociais.

Diferentemente disso, dá-se, hoje com o pensar mais hodierno sobre os métodos mais eficientes de administração dos negócios públicos. Pois se tem amadurecido o entendimento de que quanto menos centralizado o poder de decisão, maiores são as chances de se atender ao princípio da Eficiência consagrado na Carta Política de 1988. E, assim sendo, busca-se do melhor modo possível consolidar reformas que agreguem cada vez mais pontos de vista diversos e divergentes, procurando-se, portanto, afastar a incidência de medidas prejudiciais ao bom funcionamento das instituições, tomadas por agentes políticos, que ante a superestimação de sua relevância, e em virtude de fiscalização inerte ou inexistente, deixam-se inclinar para o personalismo e o tráfico de influências.

Diante disso, ouvir de uma pessoa leiga: “Se as diretrizes da Ciência Administrativa atualmente primam por um modo de gestão que contempla o compartilhamento de decisões importantes, fragmentando-se o poder – mesmo nas empresas privadas - no maior número de colaboradores possíveis, a fim de tornar a máquina eficiente, então insistir na contramão do razoável e oportuno é, além de erro crasso, evidenciar o desprezo condenável pelos bens da comunidade”. Os doutores em Gestão Pública e outras pessoas letradas a serviço dos “Eles” dirão que, pela conjuntura política, no que tange ao modo de administrar, para o setor público somente é pertinente importar da iniciativa privada os mecanismos de contenção de despesas e a ganância pelo lucro.

E quanto ao seguimento da população diretamente atingido por essas medidas desarrazoadas e inoportunas, já que áreas importantes como esportes, mobilidade, cultura e a secretaria da mulher foram extintas por serem inexpressivas e desnecessárias no administrar progressista da atual gestão municipal, entenderá, algum dia, que tais decisões possuem o condão de tornar melhor a rotina do dito cidadão comum?  E que, quando se fala em tornar eficiente a máquina pública, quer-se, ao mesmo tempo, reafirmar a tese de que secretário bom é aquele que agrada maior número de cabos eleitorais?

Por essas e outras, é que, no Brasil, eleger-se para um cargo público significa conquistar outorga para agir conforme os ditames da própria consciência, e não no interesse comum coletivo, já que no caso de gestão temerária e nociva ao erário afasta-se o personalismo para dá lugar a generosidade do contribuinte em financiar aventuras egoístas, pois o erro é sempre da prefeitura e nunca do gestor de plantão. E, assim, pela envergadura grandiloquente de medidas improfícuas “Os Eles” mantém o “status Quo” e o desprezo ao bem comum, enquanto se refestela com a condescendência dos gerentes locais.


ENTÃO, como dizia o Marquês de Maricá: “Em política os remédios brandos frequentemente agravam os males ou os tornam incuráveis”. Por outro lado, dizia Weber que há duas maneiras de se fazer política: ou se vive para ela ou se vive dela. Porém, num caso ou noutro, nada se perde em perceber que o mais notável na democracia é a facilidade com que se passa da crônica social para a crônica policial, e vice-versa.  EU É QUE NÃO ACREDITO MAIS NOS “ELES”. E VOCÊ?

domingo, 16 de fevereiro de 2014

GRACILIANO RAMOS: Um poema Nordestino.


Falo somente com o que falo: 
com as mesmas vinte palavras
girando ao redor do sol
que as limpa do que não é faca:
de toda uma crosta viscosa,
resto de janta abaianada,
que fica na lâmina e cega
seu gosto da cicatriz clara. 

Falo somente do que falo:
do seco e de suas paisagens,
Nordestes, debaixo de um sol
ali do mais quente vinagre:
que reduz tudo ao espinhaço,
cresta o simplesmente folhagem,
folha prolixa, folharada,
onde possa esconder-se na fraude. 

Falo somente por quem falo:
por quem existe nesses climas
condicionados pelo sol,
pelo gavião e outras rapinas:
e onde estão os solos inertes
de tantas condições caatinga
em que só cabe cultivar
o que é sinônimo da míngua. 


Falo somente para quem falo:
quem padece sono de morto
e precisa um despertador
acre, como o sol sobre o olho:
que é quando o sol é estridente,
a contrapelo, imperioso,
e bate nas pálpebras como
se bate numa porta a socos.

Por: João Cabral de Melo Neto

sábado, 15 de fevereiro de 2014

SARTRE: Angústia e Liberdade.

Jean-Paul Sartre
A filosofia de Sartre é profundamente marcada pela visão fenomenológica. O ser sartriano se desdobra em duas dimensões: o ser-em-si e o ser-para-si. O ser-em-si, o fenômeno, opaco para si mesmo, simplesmente é. E se caracteriza como uma realidade marcada pelo absurdo, pelo fechamento sobre si mesmo. Enquanto o ser do fenômeno, o ser-para-si, é posto pela consciência, definido “como sendo aquilo que não é e não sendo aquilo que ele é”.

Para Sartre, a consciência é uma fissura dentro do ser: por ela irrompe o nada no mundo. Através dessa fissura o ser-para-si pode ultrapassar suas barreiras, caracterizando-se como possibilidade de transcendência do limite, como espontaneidade criadora. As duas dimensões do ser convivem no tempo e constituem a existência humana.

A perspectiva de Sartre é materialista, portanto a consciência, por seu caráter intencional, de relação com o mundo, se identifica com o corpo. Devido à sua conotação corporal, o ser-para-si se caracteriza como ação e, portanto como liberdade. O que caracteriza o ser-para-si é a capacidade de fazer-se. O homem não é “aquilo que é”, ele se faz.

A responsabilidade passa a ser, portanto, um ponto fundamental na filosofia de Sartre. Cada um é aquilo que se faz e não pode atribuir esta responsabilidade a Deus ou a uma natureza que o transcende e o precede. É neste sentido que a existência antecede a essência. “O homem (...) não é passível de uma definição, porque, de início, não é nada: só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo”.

Existe uma “escolha original”, espontânea, no homem que antecede o próprio “querer”. Por não existir uma essência pré-determinada, os valores são uma criação unicamente humana e não algo em que o homem possa apoiar-se para justificar suas escolhas. Isto não quer dizer que o existencialismo tenha uma visão amoral da existência, pois escolher é afirmar o valor do que estamos escolhendo e “nada pode ser bom para nós, sem o ser para todos”.

Portanto, ao moldarmos nossa imagem, “nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela engaja a humanidade toda”, ao escolher-me, estou escolhendo o homem. Para Sartre, o que dá sentido à existência humana é o compromisso com a história.

Como se insere, neste cenário, o problema da angústia?

O homem, ao realizar suas escolhas, percebe que não é apenas o que escolheu ser, mas que é também um legislador; ele se depara com sua “total e profunda responsabilidade”. É esta percepção que faz da angústia uma condição inerente ao ser humano.

A escolha pessoal adquire de fato uma dimensão transcendente, que remete a uma situação parecida à que descreve Kierkegaard ao falar da angústia de Abraão. “Tudo se passa como se a humanidade estivesse de olhos fixos em cada homem e se regrasse por suas ações”.

A angústia, no entanto, não impede de agir, ao contrário, é a própria angústia que constitui a condição da ação, pois ela pressupõe uma pluralidade de escolhas possíveis. O caminho escolhido, no entanto, não tem em si nenhum valor, a não ser aquele de ter sido escolhido.

Ao fazer uma escolha, o homem introduz no mundo uma das tantas existências possíveis e nela engaja os outros homens. Diante disso, o homem experimenta a sua radical liberdade.

Para Sartre Deus não existe, portanto tudo é permitido: “o homem está desamparado porque não encontra nele próprio nem fora dele nada a que se agarrar (...) não encontra desculpas”. Não existindo referência a uma natureza humana dada e definitiva, o homem é livre, ele é liberdade radical: “o homem está condenado a ser livre”.

Escolher é sempre morrer, porque ao escolher uma das existências possíveis, estou ao mesmo tempo morrendo para todas as outras. Isto introduz uma situação de desamparo, pois somos nós mesmos que escolhemos o nosso ser. Nisto está, para Sartre, o sentido de nossa vida. “(...) O homem está constantemente fora de si mesmo; e é projetando-se fora de si que ele afirma sua existência”.

Quanto ao outro, o exercício maior de nossa responsabilidade é compreender que o importante não é o que os outros fazem de nós; mas, sim, o que fazemos do que os outros fazem de nós.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Suicídio


Ao bibliotecário Uirakitan.

A gravidade conduz o corpo até o abismo de si mesmo.
Alguém  se atirou à ausência,
À isenção de suas angústias,
Renunciando a si e ao tempo.

Mergulha, inesperadamente, na incompreensão,
Abrigando-se no entendimento que ninguém mais alcança.

Apenas ele compreende a sua queda
E segue em frente
Sem tristeza nem felicidade
Para um lugar onde não há arrependimentos.
E toda culpa se esvai.

Seu movimento faz congelar o ponteiro dos sonhos.

Adão Lima de Souza

Do Livro: A Vela na Demasia de Vento.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

E APOIS! – AS CIDADES: CEMITÉRIOS DE VIVOS?

OS “ELES” QUEREM NOS FAZER CRER que viver em cidades de concreto e asfalto seja sinônimo de civilidade e progresso econômico. E que, por estas razões, devemos aplaudir de pé os planos de mobilidade e desenvolvimento urbanos fundados única e exclusivamente na construção de equipamentos públicos destinados aos automóveis, como viadutos, anéis viários e estacionamentos, e, assim, contemporizarmos com as políticas governamentais para as cidades, nas quais o conforto e a saúde da pessoa humana, que deveriam ser prioritários, são relegados ao ultimo plano, como se os monstrengos de ferro e estofados fossem coisas mais importantes que árvores e bichos de carne e osso.

E isto é perceptível quando miramos o olhar para a cidade em que vivemos e constatamos a vultosa soma de investimentos gasta nas últimas duas décadas, a fim de espalhar sobre as antigas pavimentações de pedras ornamentais o manto negro de betume, impossibilitando o escoamento das águas das raras chuvas que se precipitam sobre nossa cidade e, desse modo, transformando as extensas avenidas em imensos espelhos refratores dos raios solares, reproduzindo em nossas casas e nos espaços de lazer o mesmo efeito necessário ao cultivo de rosas em estufas.

Diante disso, ouvir de uma pessoa leiga: “Se vivemos numa cidade de elevadas temperaturas, causadas pela incidência do sol o ano inteiro, mas não há nenhuma política de arborização por parte do gestor municipal que possa amenizar os efeitos nocivos à saúde coletiva, então melhor seria só termos prefeituras desertas”. Os Urbanistas e outras pessoas letradas a serviço dos “Eles” dirão que é, ainda, incipiente a nossa educação ambiental e, portanto, investimentos em mobilidade urbana e obras faraônicas reclamam maior urgência política.

E quanto ao cidadão que se vê alijado todo dia do seu direito de respirar ar puro e de sentar-se à sombra de uma árvore frondosa, porque as escassas áreas verdes se encontram em petição de miséria pelo abandono e a depredação diretamente estimulada pelos administradores das cidades, cujo propósito é, incansavelmente, dilapidar o erário público, financiando a ganância de grandes empreiteiras, entenderá ele, algum dia, que o que se costuma chamar de direito coletivo ou difuso, como o direito ao meio ambiente saudável, a qualidade de vida, ultrapassa não só a sua esfera individual, mas uma coletividade indeterminada inteira? E que, quando se fala em direito de todos, quer-se, porém, ao mesmo tempo afirmar que nem todos têm direitos, a não ser de forma difusa e, portanto, indeterminada e incerta?

É, por essas e outras, que “Os Eles” a quinhentos e quatorze anos espalham o deserto, devastando a Amazônia, as Matas Atlânticas, os Cerrados e as Caatingas. E, impunes, seguem se locupletando à custa do ar poluído que respiramos. E a menos que, como bem dizem os urbanistas “Dos Eles”, esforcemo-nos para absolver uma verdadeira educação ambiental e façamos chegar aos ouvidos dos gestores de nossas cidades a exigência por um meio ambiente equilibrado, onde pessoas e árvores sejam mais importantes que carros, nunca deixaremos de ser insignificantes para o Estado “Dos Eles”.

ENTÃO, como dizem os ambientalistas: “O nível de poluição ambiental nas cidades é igual ao da burrice de seus moradores”. E, por fim, também deveria ser nossa a frustração do professor de "Direito Ambiental" em não poder esganar o animal que não presta atenção na sua aula. EU É QUE NÃO ACREDITO MAIS NOS “ELES”. E VOCÊ?


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O homem que resolveu contar apenas mentiras

Até que ponto vai nossa ingenuidade? Ou somos, em vez de tolos, cínicos? Pois fechamos os olhos para um mundo que queremos que seja real. Isso nos torna tolo ou hipócrita? Ignácio de Loyola Brandão tenta responder a essas questões neste belo conto.


N
aquela manhã, acordou disposta a só contar mentiras. A não dizer uma única verdade. A ninguém. Nem à própria mulher; E assim quando afirmou: "vou para o trabalho”, empregou a primeira mentira. Não ia. Tinha resolvido faltar, esquecer o escritório, a mesa, os papéis. Parar, ficar na rua. E quando disse bom-dia para o zelador do prédio, também mentia, porque odiava o zelador, um oportunista, que não conservava o prédio, fazia fofocas entre empregadas, pedia gorjetas, ganhava porcentagem na compra de materiais de limpeza.

E quando disse o endereço ao motorista de táxi, também mentia, não pretendia ir para aquele lugar. Mas o chofer exigira o destino porque as pessoas vivem exigindo coisas. E nem sempre temos vontade ou possibilidade de satisfazer. E as exigências crescem e se tornam parte de nossa vida diária.

Nos acostumamos com elas, nos acomodamos, sem perceber que cada concessão é um pedaço da gente mesmo, envenenado, que a  gente engole. E quando o homem entrou no bar e pediu café, mentia, porque não queria café. Estava apenas fazendo um teste, enquanto observava o gesto maquinal daquele empregado que destacava uma ficha e a entregava.

Será que aquele funcionário, alguma vez, já imaginou que alguém pudesse não querer café? Pedir, por pedir, mas não querer? Nem sequer desejar ver a xícara fumegante? Com a ficha na mão, saiu pela rua. Outra mentira, não queria ficar na rua. Mas se entrasse no escritório, seria mentira maior. Odiava o escritório, o emprego, os colegas. De duas mentiras ,preferiu a menor, ainda que, ponderando, descobrisse que, ficar com a mentira menor era igualmente fuga, mentira, porque nesse dia tinha decidido mentir. E quando se decide uma coisa, o melhor é levá -lá até o fim.

Andou. Pensando como a cidade era bonita com seus prédios batidos de sol e os vidros dando mil reflexos. Bonita com a gente que andava apressada para trabalhar e construir alguma coisa. Bonita na tranquilidade da vida, no sossego das casas, na calma que se estampava nos rostos das gentes. Bonita no que oferecia de futuro e de perspectivas. Bonita nos carros que andavam em fila, ruidosamente, um atrás do outro, sempre para frente, sempre para frente. Bonita na fumaça negra que escapava dos veículos e subia em espirais, milhares de fumaças reunidas, formando uma bela nuvem negra, como um negro véu que surgia sobre a terra, empanando o céu.

Andou sem querer andar. Viu, sem querer ver Sentiu sem querer sentir, Cansou sem querer cansar.
Tudo uma grande mentira neste dia. Como mentira era a vida que ele vivia, cotidianamente, falsificada, pré-fabricada, exaurida, imposta. Suada. Que repousante era viver este dia da mentira. Negar tudo. Reviver.

Andou até a hora de voltar para casa. Outra mentira, não queria voltar para casa, o lar, o aconchego, o refúgio, a fuga. A verdade de sua vida encerrada entre aquelas quatro paredes, a família, o amor, o carinho, o aconchego, o lar, o refúgio, a fuga, a realidade. Não voltar, e andar. Percorrendo as ruas, entrando nos prédios, conversando com as pessoas.

No entanto, não tinha vontade de conversar. Sabia que precisava, mas não tinha vontade de falar. Falava pouco, sua língua andava entorpecida, sem prática. O medo é que um dia desacostumasse e perdesse a capacidade de se comunicar. Ficou parado numa esquina, esperando a noite passar.

E quando o dia chegou, tinha acabado o período da mentira, podia enfrentar de novo a verdade. E disse bom dia ao porteiro, deu o endereço ao táxi, ligou para a mulher e o patrão. Disse no emprego que estava doente, E na verdade, estava.

                           Ignácio de Loyola Brandão

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

MACHADO DE ASSIS: UM APÓLOGO.

Machado de Assis nos falava de dois países: um Brasil Oficial e um Brasil Real. o conto abaixo nos revela um pouco desses Brasis.


 Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora?  A senhora não é alfinete, é agulha.  Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa!  Porque coso.  Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você?  Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.  

Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?  Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?  Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: 

— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. 

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!



domingo, 2 de fevereiro de 2014

CHICO SCIENCE E O MANGUEBEAT: Da Lama ao Caos.

“Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”


O movimento de contracultura que misturava ritmos regionais, como o maracatu, com hip hop, funk, música eletrônica e rock, e que ficou conhecido, em meados da década de 1990, como Manguebeat, sob a influência de Francisco de Assis França (Chico Science – 1966 a 1997), morto num acidente viário há 17 anos, se notabilizou não apenas pela sonoridade inovadora, mas, principalmente por ser um movimento de cunho social, pois trazia em suas letras a crítica oportuna ao abandono econômico, social e humano do homem dos manguezais, derrotado pela desigualdade social reinante na cidade do Recife, tal qual se agrava em outras cidades brasileiras o desamparo de categorias de trabalhadores braçais que sobrevivem, por exemplo, da cata e separação do lixo e são qualificadas como substratos sociais.

A porta voz do manifesto Manguebeat, intitulado pelo autor Fred 04 de Caranguejos com cérebro, em 1992, era a banda Chico Science e Nação Zumbi, formada pelo próprio Chico, Fred 04, Renato L e Helder Aragão, cujo objetivo era criar, a partir da metáfora do Homem-Caranguejo, uma cena musical tão diversificada quanto os manguezais, acabando por contaminar outras formas de expressão culturais como o cinema, a moda e as artes plásticas, influenciando, por fim, muitas bandas de Pernambuco e do Brasil.

O Manguebeat conseguiu, ainda, abrir o fechado mercado fonográfico brasileiro, centrado no eixo Rio-São Paulo, para bandas como Mundo Livre S/A, Sheik Tosado, Mestre Ambrósio, DJ Dolores, Faces do Subúrbio, Comadre Fulozinha, Jorge Cabeleira, Eddie, Via Sat e Querosene Jacaré.

Entretanto, o principal componente impulsionador do Movimento Manguebeat não se restringe a novidade musical do Maracatu Atômico, e, sim, pelo resgate importante que se fez das ideias do pensador brasileiro Josué Apolônio de Castro (1908 -1973), mais conhecido por Josué de Castro, médico, nutrólogo, geógrafo e ativista que dedicou sua vida ao combate a Fome no Brasil.

Josué de Castro foi um destacado cientista Político e Social no cenário brasileiro e internacional, não só pelos seus trabalhos ecológicos sobre o problema da fome no mundo, mas também no plano político em vários organismos internacionais, como a presidência do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e, principalmente, pelas obras Geografia da Fome, Geopolítica da Fome, Sete Palmos de Terra e um Caixão e Homens e Caranguejos.

Josué de Castro fez um inventário das causas geográficas, culturais, sociais e políticas da avassaladora fome que ceifava, e ainda persiste ceifando, vidas por todo planeta, agravando os problemas de saúde e desenvolvimento anatômico e intelectual de bilhões de pessoas mundo a fora.

E pelas conclusões a que se chega, pela capacidade produtiva da espécie humana, haja vista o desenvolvimento tecnológico e o acúmulo de riqueza pelas grandes economias capitalistas, a questão da fome no mundo encontra suas origens não na incapacidade de provimento de alimentos para todos, mas, indubitavelmente, na decisão política dos doutrinadores do mundo de manter superestimado o preço das Commodities, ainda que pelo sacrifício de multidões de famélicos.

Então, é esse o resgate da música de Science: fazer ecoar o grito dos ofendidos Homens-Caranguejos, chafurdados no caminho tortuoso da lama ao caos, para torná-lo visível a uma sociedade consumista e insensível. Ou seja, o Movimento Manguebeat era, antes de tudo, um movimento sociológico de resgate da dignidade humana.

Por: Adão Lima de Souza

Quem tem ouvidos que ouça:






sábado, 1 de fevereiro de 2014

E APOIS! – COPA DO MUNDO: O que o Inglês precisa ver?

OS “ELES” QUEREM NOS FAZER CRER que um evento da envergadura da Copa é tudo que o Brasil precisa agora pra tomar assento na mesa dos que ditam as regras do mundo. Por isso, é imprescindível sair tudo a contento dos “Eles”, ainda, que para isso se faça valer a sentença do secretário geral da FIFA de que quanto menos democracia no país melhor será para a “pelada internacional”. Por conseguinte, a estratégia tem sido, a todo custo, criminalizar as manifestações populares, a fim de intensificar e justificar o aumento de medidas repressivas, podendo os intocáveis senhores da governança, sob a alegação de manter a ordem pública, revogar direitos ou prender qualquer do povo.

E tudo isso, contra um povo já subjugado pelas mazelas da política brasileira, alijado do direito à saúde e à educação e, como se não bastasse, obrigado, agora, a silenciar diante de mais um desmando. Pois qualquer menção de desagrado de sua parte contra o “Racha dos Gringos” é logo qualificada de desobediência, vandalismo, desacato e, portanto, violentamente sufocada pelos obedientes policiais. Isto quando o sujeito não é brutalmente assassinado ou desaparece misteriosamente como certo pedreiro carioca. E enquanto isso, vemos aqueles que um dia foram taxados de terroristas, oportunamente, lançar mão do mesmo expediente sujo para ressuscitar o antigo regime: perseguição, violência, silêncio e medo.

Diante disso, ouvir de uma pessoa leiga: “Se a população não pode sequer protestar contra um “Baba”, devendo acatar qualquer tipo de arbitrariedade e, ainda, passivamente, aceitar que bilhões sejam gastos com eventos desportivos que só servem para abarrotar os bolsos de meia dúzia de calhordas, como aconteceu na Alemanha e na África do Sul, pois  foi o povo desses países quem suportou todo prejuízo, então que diabo de democracia é esta? Que esquerda é esta que comanda o país com balas, cassetetes e bombas de gás?”. Os Cartolas, os Apaniguados Políticos e outras pessoas letradas a serviço dos “Eles” dirão que as manifestações são ilegítimas porque atentam contra a boa imagem do Brasil no exterior, e por isso, não são salutares à Copa nem à democracia.

E quanto ao cidadão que assiste passivo o dinheiro de seus impostos se esvaírem pelo esgoto da corrupção, sem que nunca os malfeitores sejam presos, porque jamais sofrem nenhum tipo de represália, entenderá algum dia que a obrigação de ser honesto não se estende a todos, pois, apenas o cidadão trabalhador tem o dever de obedecer às leis feitas pelos “Os Eles” e não se revoltar? E que quando se diz que todos são iguais perante a lei, quer-se, todavia, ao mesmo tempo, afirmar que a Lei não é igual perante todos?

É, por essas e outras, que sob a proteção de homens armados, “Os Eles”, refestelam-se na roubalheira impune, dilapidando o erário público numa voracidade incomum. E a cada grito que a população ensaia contra a corrupção tenebrosa, a polícia a faz calar. Enfatizando o desprezo que nossos governantes nutrem pelo povo. Porque, no Brasil, sempre imperou a total “insignificância do cidadão perante o Estado”. E, concomitante a isso, esperar uma sociedade harmônica e pacífica é, antes de tudo, permitir que alguns se locupletem com o trabalho sacrossanto de milhões.


ENTÃO, como se diz por aí, é muito bom ter cuidado! E quando for às manifestações contra a Copa do Mundo, leve a autorização da polícia local, carimbada, em duas vias, com todos os dados aptos a lhe identificar de pronto, sem a necessidade de uma segunda cacetada. Para que, dos camarotes luxuosos pagos com seu dinheiro, os ingleses possam vê que “Somos brasileiros com muito orgulho, com muito amor” EU É QUE NÃO ACREDITO MAIS NOS “ELES”!