The Doors foi uma banda de rock psicodélico norte-americana formada em 1965 em Los Angeles, na Califórnia. O grupo era composto por Jim Morrison, Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore.
domingo, 29 de junho de 2014
THE DOORS
The Doors foi uma banda de rock psicodélico norte-americana formada em 1965 em Los Angeles, na Califórnia. O grupo era composto por Jim Morrison, Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore.
sábado, 28 de junho de 2014
Escritos Anarquistas: A Igreja e o Estado
É óbvio que a liberdade não será restituída à humanidade, e
que os verdadeiros interesses da sociedade – quaisquer que sejam os grupos,
organizações sociais ou indivíduos que a compõem – só serão satisfeitos quando
os Estados não mais existirem. Está claro que todos os chamados interesses gerais
que o Estado deveria representar são de fato uma abstração, uma ficção, uma
mentira. Estes interesses, na realidade, não são nada mais que a negação total
e contínua dos interesses reais das regiões, comunas, associações e da grande
maioria dos indivíduos submetidos ao Estado.
O Estado é um enorme matadouro, um
vasto cemitério no qual, sob a sombra e o pretexto de abstração, todas as reais
aspirações e forças ativas de um país deixaram-se enterrar generosa e
pacificamente.
Já que nenhuma abstração existe por si ou para si mesma, já
que não tem pernas para andar, nem braços para criar, nem estômago para digerir
as milhares de vítimas que lhe são dadas para que devore, torna-se óbvio que
essa abstração religiosa e celestial, o próprio deus, representa na verdade os interesses
muito positivos e reais de uma casta privilegiada, o clero.
Da mesma forma que
seu complemento terreno, a abstração política, que é o Estado, representa os
interesses não menos reais e positivos da classe que é hoje o principal – se
não o único – agente da exploração e que, além disso, ainda demonstra uma certa
tendência para absorver todas as outras classes: a burguesia. E assim como o clero
sempre estava dividido e hoje tende a dividir-se ainda mais entre uma minoria
rica e poderosa e uma maioria empobrecida que lhe é subordinada; assim também a
burguesia e suas várias organizações – tanto sociais quanto políticas, na
indústria, agricultura, bancos e comércio, bem como em todas as funções
administrativas, financeiras, judiciárias, acadêmicas, policiais e militares do
Estado – tendem a tornar-se uma verdadeira oligarquia. Transformar-se-ão em
enorme massa de indivíduos pretensiosos e decadentes, vivendo numa ilusão
perpétua, empurrados inevitavelmente e cada vez mais para o proletariado pela
força irresistível da situação econômica atual e reduzidos a servir como
instrumentos cegos dessa toda-poderosa oligarquia.
A abolição da Igreja e do Estado deve ser a primeira e
indispensável condição para a verdadeira libertação da sociedade; só depois que
isso acontecer é que a sociedade poderá ser organizada de uma maneira
diferente. Não de cima para baixo e segundo algum plano ideal sonhado por
alguns sábios e eruditos, e menos ainda por decretos emanados de algum poder
ditatorial, ou ainda por uma assembleia nacional eleita por sufrágio universal.
Como já demonstrei, um tal sistema levaria inevitavelmente à criação de um novo
estado e, consequentemente, à formação de uma aristocracia oficial, isto é, uma
classe de indivíduos que não teriam nada em comum com o povo e que começariam
imediatamente a explorar e subjugar esse povo em nome do bem estar geral ou
para salvar o Estado.
A futura organização da sociedade deveria ser realizada de
baixo para cima, pela livre associação e união dos operários; primeiro em
associações, depois em comunas, em regiões, em países e, finalmente, numa
grande federação internacional e universal. Só assim poderá ser estabelecida a liberdade
e a facilidade geral da nova ordem, uma ordem que, longe de querer negar,
garante e tenta harmonizar os interesses dos indivíduos e da sociedade.
Algumas pessoas acreditam ser impossível obter essa harmonia
entre os interesses dos indivíduos e os interesses da sociedade como um todo,
pois tais interesses são contraditórios, jamais alcançando um equilíbrio ou até
mesmo chegando a um mínimo entendimento mútuo. A tais objeções respondo que, se
até agora esses interesses jamais foram comuns, a culpa cabe ao Estado, que
sempre sacrificou os interesses da maioria em benefício de uma minoria
privilegiada. Aquela famosa incompatibilidade, aquele conflito entre os
interesses pessoais e os da sociedade não são mais do que um artifício e uma
mentira política nascidos de uma mentira teológica, que inventou a doutrina do
pecado original para degredar o homem e destruir sua consciência íntima de seu
próprio valor. Esta falsa idéia do antagonismo de interesses também foi
disseminada pelas ilusões da metafísica que, como se sabe, é parente próxima a teologia.
Por não compreender a sociabilidade da natureza humana, os
metafísicos consideravam a sociedade um agregado mecânico e artificial de
indivíduos. Este agregado seria formado abruptamente sob a bênção de algum
tratado formal ou secreto, feito livremente ou influenciado por algum poder superior.
Antes de entrar para a sociedade, estes indivíduos, dotados de uma alma
imortal, gozariam de liberdade total.
Os metafísicos, sobretudo os que creem na imortalidade da
alma, afirmam que, fora da sociedade, os homens podem unir-se em sociedade
apenas ao custo de sua liberdade, sua independência natural e do sacrifício de
sues interesses. Tal renúncia, tal sacrifício deve, portanto, ser mais
imperativo quanto a sociedade for populosa e sua organização mais complexa. Em
tal caso, o Estado é a expressão de todos os sacrifícios individuais.
Por
existir de forma tão abstrata e ao mesmo tempo violenta, o Estado continua cada
vez mais a impedir a liberdade individual em nome da mentira chamada “bem
comum”, que obviamente representa os exclusivos interesses da classe dominante.
Desta forma, o Estado se mostra como uma negação inevitável, uma aniquilação de
toda a liberdade, de todos os interesses individuais e gerais. Todos os
sistemas metafísicos teológicos estão unidos de tal forma que são mutuamente explanatórios.
Esta é a razão porque os defensores destes sistemas podem e devem continuar a
explorar as massas em nome da Igreja e do Estado. Enchendo seus bolsos e
satisfazendo sua luxúria imunda, eles, ao mesmo tempo, podem consolar-se com a ideia
de que estão trabalhando para a glória de deus, pela vitória da civilização e
pela causa do proletariado.
Mas nós, que não acreditamos em deus, na imortalidade da
alma, nem no livre arbítrio individual, afirmamos que a liberdade deve ser
entendida no seu senso mais amplo e profundo como o destino do progresso
histórico do homem. Por um contraste estranho mas lógico, nossos adversários,
teólogos idealistas e os metafísicos, tomam o princípio da liberdade como o
fundamento e a base de suas teorias e chegam facilmente à indispensabilidade da
escravidão humana.
Nós, que somos teoricamente materialistas, tendemos na
prática a criar e fazer durar um idealismo nobre e racional. Nossos inimigos, os
idealistas divinos e transcendentais, na prática caem num materialismo vil e
sangrento. Praticam-no em nome da mesma lógica, de acordo com a qual, todo
progresso é a negação do princípio básico.
Estamos convencidos de que toda riqueza do progresso
intelectual humano, moral e material, assim como a aparente independência do
homem, é produto da vida em sociedade. Fora da sociedade, o homem não seria
livre, e nem mesmo se tornaria um homem verdadeiro, isto é, um ser
autoconsciente que sente, pensa e fala. Apenas a combinação da inteligência com
o trabalho coletivo pode tirar o homem do estágio selvagem e animalesco que
constitui sua primeira natureza, ou melhor, seu primeiro passo em direção ao progresso.
Estamos seriamente convencidos de que a verdade de toda a vida humana, isto é,
interesses, tendências, necessidades, ilusões e mesmo estupidez, assim como os
atos de violência e de injustiça, toda ação que parece ser voluntária é apenas
uma consequência das forças fatais na vida em sociedade.
Não se pode admitir a idéia da independência mútua sem negar
a influência recíproca da correlação de manifestações de natureza externa. Na
própria natureza, aquela maravilhosa correlação e filiação do fenômeno não
podem ser obtidas sem conflito. Ao contrário, a harmonia das forças naturais
parece ser obtida sem conflito. Ao contrário, a harmonia das forças naturais
parece ser o único resultado do conflito, que é a condição da vida e do movimento.
Na natureza e na sociedade, a ordem sem conflito é mortal.
Se a ordem é natural e possível no universo, é porque o
universo não é governado por nenhum sistema criado anteriormente e imposto por
um poder supremo. A hipótese teológica de uma legislação suprema leva a um
absurdo evidente, e à negação da ordem e da própria natureza. As leis naturais
são reais apenas enquanto forem inerentes à natureza, isto é, enquanto não são
fixadas por uma autoridade.
Estas leis são somente simples manifestações, ou modalidades
descontínuas do desenvolvimento das coisas e a combinação de fatos variados,
transitórios, porém reais. Juntos constituem o que denominamos “natureza”. A
inteligência humana e a ciência observaram estes fatos e os controlaram experimentalmente.
Estão reuniram-nos num sistema e os denominaram leis. Mas a própria natureza
não tem leis. Ela age inconscientemente, representando em si própria a infinita
variedade dos fenômenos, que surgem e se repetem de acordo com a necessidade.
Graças a esta inevitabilidade de ação que a ordem universal pode existir e de
fato existe.
Tal ordem também surgiu na sociedade humana, que parece
evoluir de uma forma dita antinatural, mas na realidade, ela se submete à
marcha natural e variável dos fatos. Foi apenas a superioridade do homem sobre
os outros animais que trouxe à sua evolução um elemento especial. Este elemento
é totalmente natural, no sentido de que tal como tudo que existe, o homem é
produto natural da união e interação das forças. O elemento especial é o poder
de raciocínio ou a facilidade de generalização e abstração, graças à qual o
homem se projeta por meio do pensamento, se examina e se observa como um
alienígena, como um objeto externo. Elevando-se sobre si mesmo e por meio de ideias,
e, desta forma, elevando-se sobre o mundo circundante, ele chega à
representação da abstração perfeita, que é o nada absoluto. Este limite final
da maior abstração do pensamento, este nada absoluto é deus.
Este é o significado e a base histórica de todo dogma
teológico. Não compreendendo a natureza nem as causas materiais de seus
próprios pensamentos, não percebendo as leis naturais que lhes são próprias, os
primeiros homens na sociedade não podiam saber que seus conceitos de absoluto
eram apenas resultados da faculdade de conceber ideias abstratas. Esta é a
razão porque eles consideravam estas ideias, tiradas da natureza, objetos reais
diante dos quais a própria natureza deixou de ter significado. Então começaram
a adorar suas próprias ficções, suas noções impossíveis do absoluto e a honrá-las.
Mas era necessário, de uma forma ou de outra, incorporar e tornar palpável a ideia
abstrata do nada – ou deus. Com este objetivo, exaltavam a ideia de divindade e
dotavam-na de todas as qualidades e poderes, tanto bons quanto maus, que
encontravam apenas na natureza e na sociedade.
Esta foi a origem e a evolução histórica de todas as
religiões, do fetichismo ao cristianismo. Não temos a intenção de investigar a
história dos absurdos religiosos, teológicos ou metafísicos, e ainda menos de
decidir o desenvolvimento das encarnações divinas e visões criadas por séculos
de barbarismo. Todos sabem que a superstição sempre deu lugar a assustadores
azares que terminavam em torrentes de sangue e lágrimas. Nos contentaremos em
dizer que todas estas repulsivas aberrações da pobre humanidade foram
circunstâncias históricas inevitáveis no crescimento normal e na evolução do organismo
social. Tais observações, dominando a imaginação humana, geraram na sociedade a
noção fatal de que o universo é governado por um poder e uma vontade
sobrenaturais. Século após século, a sociedade acostumou-se tanto a esta ideia
que acabou matando todas as inclinações em direção ao progresso e toda a
capacidade de atingi-lo.
A ambição, inicialmente de alguns indivíduos e depois de
classes sociais inteiras, fez surgir a escravidão e a conquista dos princípios
vitais, e semeou profundamente a idéia da divindade. Desde aí, toda sociedade
se tornou impossível sem ter, como fundamento, as instituições da Igreja e do
Estado. Estes dois flagelos sociais ainda são defendidos por todos os
dogmáticos. Mal haviam surgido estas instituições, quando duas castas foram
organizadas imediatamente: a dos padres e a dos aristocratas que, sem perda de
tempo, implantaram profundamente nos escravos a indispensabilidade, a utilidade
e a santidade da Igreja e do Estado. Tudo isto teve por objetivo transformar a
escravidão brutal em uma escravidão assegurada e legal, consagrada pela vontade
do Ser Supremo.
Mas os padres e os aristocratas acreditavam sinceramente
nestas instituições que eles mantinham com todo o seu poder e em função do
próprio interesse? Eram apenas mentirosos e farsantes? Não, acredito que eram
ao mesmo tempo crentes e impostores... Mas assim, como podemos reconciliar dois
papéis aparentemente incompatíveis: crédulo e enganador, mentiroso e crente?
Logicamente parece difícil, mas de fato, na vida diária, estas qualidades estão
frequentemente associadas.
A grande maioria das pessoas vive em contradição consigo
mesma e sob contínuos mal entendidos. Geralmente, não se dão conta disto até
que algum fato extraordinário os tire do seu sonambulismo habitual e os force a
olhar para si e ao redor. Na política, como na religião, os homens são apenas
máquinas nas mãos dos exploradores. Mas assaltantes e assaltados, opressores e
oprimidos vivem lado a lado, governados por um punhado de indivíduos que devem
ser considerados como verdadeiros exploradores. São sempre o mesmo tipo de gente,
livre de todos os preconceitos políticos e religiosos, que maltratam e oprimem
quase como uma questão de consciência. Nos séculos XVII e XVIII até a Grande
Revolução, assim como hoje, eles comandaram a Europa e tudo funcionou como eles
queriam. Cremos que sua dominação não pode mais continuar.
Enquanto estes líderes iludem e enganam o povo
deliberadamente, seus servos, os instrumentos da Igreja e do Estado,
zelosamente dedicam-se a manter a santidade e a integridade destas terríveis instituições.
Se a Igreja é necessária para a salvação da alma, como afirmam os padres e a
maioria dos estadistas, o Estado é, por sua vez, necessário para a conservação
da paz, ordem e justiça. Proclamam os dogmáticos de todas as classes: “Sem a
Igreja e o Estado, não haveria civilização nem progresso”. Não há necessidade
de discutir o problema da salvação eterna já que não acreditamos na imortalidade
da alma. Estamos convencidos de que o pior mal, tanto para a humanidade quanto
para a verdade e o progresso, é a Igreja.
Poderia ser de outra forma? Pois não cabe à Igreja a tarefa
de perverter as gerações mais novas e especialmente as mulheres? Não é ela que,
através de seus dogmas, suas mentiras, sua estupidez e sua ignomínia tenta
destruir o pensamento lógico e a ciência? Não é ela que ameaça a dignidade do
homem, pervertendo suas ideias sobre o que é bom e o que é justo? Não é ela que
transforma os vivos em cadáveres, despreza a liberdade e prega a eterna
escravidão das massas em benefício dos tiranos e dos exploradores? Não é essa
mesma Igreja implacável que procura perpetuar o reino das sombras, da
ignorância, da pobreza e do crime?
Se não quisermos que o progresso seja, em nosso século, um
sonho mentiroso, devemos acabar com a Igreja.
Por: Mikhail Bakunin
terça-feira, 24 de junho de 2014
A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA
Podem-se definir três grupos de entendimento da educação na sociedade:
educação como redenção, educação como reprodução e educação como transformação.
A pedagogia libertária segue a tendência filosófico-política
da educação como transformação da sociedade. A pedagogia libertária espera que
a escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos,
num sentido libertário e autogestionário em que ela o institui, com base na
participação dos grupos, mecanismos institucionais de mudança, através de assembleias,
conselhos, eleições, reuniões e associações.
As matérias são colocadas à disposição do aluno, mas não são
exigidas. São um instrumento a mais, porque o que realmente é importante para a
pedagogia libertária é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo
grupo.
O método de ensino, portanto, dá-se na vivência grupal, pois,
é na forma de autogestão que os alunos buscarão encontrar as bases mais
satisfatórias de sua própria aprendizagem, sem qualquer forma de poder.
Trata-se de colocar nas mãos do aluno tudo que for possível.
Os alunos têm liberdade de trabalhar ou não, ficando o
interesse pedagógico na dependência de suas necessidades ou das do grupo.
A pedagogia libertária considera desde o início a ineficácia
e a nocividade de todos os métodos à base de obrigações e ameaças. Nesse
sentido, o professor deve se por a serviço do aluno sem impor suas concepções e
idéias, sem fazer do aluno um "objeto", ele deve se misturar ao grupo
para uma reflexão em comum.
Toda essa liberdade de decisão tem um sentido bem claro. Se
um aluno resolve não participar, o faz porque não se sente integrado, mas o
grupo tem responsabilidade sobre esse fato e tem que colocar a questão em
discussão.
O critério de relevância do saber é seu possível uso
prático. Por isso mesmo não faz sentido qualquer tentativa de avaliação da
aprendizagem, ao menos não em termos de conteúdo.
Por: Adão Lima de Souza
segunda-feira, 23 de junho de 2014
À noite
À noite, corpos obtusos,
Emaranhados em sentimentos difusos
Como se só houvesse um minuto
Lascivamente se devoram num insulto.
Se entrelaçando na confluência
De desejos avulsos
Para depois se afastarem na divergência
Dos dias absurdos.
Durante o dia, as horas adversas,
Trazendo a fúria dos desejos antigos,
Aproxima os corpos atrevidos
Aproxima os corpos atrevidos
Na volúpia que não se tentou conter
Enquanto a noite fluía.
Adão Lima de Souza
Do Livro: A Vela na Demasia de Vento.
domingo, 22 de junho de 2014
Quando eu morrer
Quando eu morrer
Que seja na feira livre!
Para que surja, nos pregões corriqueiros,
Versões contraditórias sobre minha morte.
Contadas no modo rudimentar
Desses singulares capitalistas
Que barbaramente absorvem a vida.
Porque só o povo ridiculariza as verdades!
Quando eu morrer
Quero que seja no cinema!
Para que minha morte confunda os expectadores.
Que ansiosos torcem por um final feliz
Sem saber que a mocinha abandonará o herói
E partirá sorrindo.
Porém, não seja um ardil, como no cinema, minha morte!
Quando eu morrer
Que seja de repente!
Para, num desafio de trovadores,
Improvisando, os cantadores,
Afirmem e neguem minha morte.
E os acordes da viola emudeçam a hipocrisia do choro.
E não seja minha morte só improviso!
Quando eu morrer
Que seja longe de casa!
Para meu corpo demorar a chegar
Impacientando os falsos pregadores
Que lamentam por eu ter partido cedo demais.
Que não tardem a esquecer a minha morte!
Quando eu morrer
Que seja no inverno!
Para o frio obrigar acender fogueira
E se contar anedotas inoportunas a sua volta,
Sob a recriminação dos mais velhos.
Que minha morte logo se transforme em piada!
Quando eu morrer
Que seja à hora do almoço!
Para que a fome confunda os desmaios
Daqueles que se empanturram da ambrosia
Com a qual festejarão minha partida
Em companhia dos presentes que me detestam.
Seja minha morte um regozijo!
Quando eu morrer
Que seja na terça-feira de carnaval!
Para que só se vele
meu corpo na quarta-feira de cinzas
E que não se faça penitência até a sexta-feira santa.
Quando eu morrer
Que toda lembrança de quem fui se dissipe como cinzas
Ou como um sorriso vago e despretensioso!
Adão Lima de Souza
Do Livro: A Vela na Demasia de Vento
sábado, 21 de junho de 2014
O medo
Coisa que se eterniza em nós: o medo.
Outras são efêmeras: as paixões e a vida.
O medo é estático e nos corrói a altivez.
Porém, aproxima-nos de nós mesmos.
E nos esvazia quando não o sentimos: a ausência e a perda.
Caminhamos por uma longa rua
Infestada de efemeridades
E medos excessivos.
Somos feios e tristes na solidão que o medo traz.
Não somos originais por sentir medo.
Somos limitados.
Porque o medo nos apequena,
Paralisa, ridiculariza.
Por isso, em nós tudo é efêmero.
Pois somente o medo transcende.
Adão Lima de Souza
Do Livro: A Vela na Demasia de Vento.
sexta-feira, 20 de junho de 2014
BAKUNIN, Mikhail Alexandrovich
Sou um amante fanático da liberdade, considerando-a como o
único espaço onde podem crescer e desenvolver-se a inteligência, a dignidade e
a felicidade dos homens; não esta liberdade formal, outorgada e regulamentada
pelo Estado, mentira eterna que, em realidade, representa apenas o privilégio
de alguns, apoiada na escravidão de todos;
(...) só aceito uma única liberdade que possa ser realmente
digna deste nome, a liberdade que consiste no pleno desenvolvimento de todas as
potencialidades materiais, intelectuais e morais que se encontrem em estado
latente em cada um.
Alma pusilânime
Sigo tangenciando a vida
Sem reservas ou alumbramento
Não me apraz atitude desmedida
Que congregue dor ou arrependimento.
Não sou atroz, alegre ou cantante.
Nem audacioso ou afoito ou afeito
Ao dia passado distante
Sem desmesura ou trejeito.
Não sou obra; sou acaso.
Trago ilusões e rompantes
De ódio, de desdém, de descaso,
De trilhas e caminhos errantes.
Cultivo dos sentimentos a amizade
Por seres quase inanimados
Que trazem nos gestos a bondade
Pelas almas vis e os espíritos derrotados.
Mais me importa o trabalho do artesão
Que afugenta os algozes do homem moderno
Que labuta construindo seu próprio inferno
Para nele vicejar sua criação.
Adão Lima de Souza
Do Livro: A Vela na Demasia de Vento.
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