segunda-feira, 13 de novembro de 2017

O ANARQUISTA ALENTEJANO ARTUR MODESTO

Artur dos Santos Modesto nasceu em Beja a 27 de Maio de 1897 e morreu em Lisboa a 3 de Abril de 1985. Foi um dos anarquistas da velha guarda que passou o testemunho aos mais novos, já no pós 25 de Abril, fazendo parte do colectivo que voltou a publicar o jornal “A Batalha” e criou o Centro de Estudos Libertários.
Artur Modesto tinha apenas a 2ª classe, mas foi um verdadeiro autodidata, no mais genuíno espírito libertário, mantendo conversas apaixonadas e profundas sobre os mais variados temas, chegando a desempenhar funções de “secretário” junto de António Sérgio, o “pai” do cooperativismo português.
Filho de um sapateiro e de uma ajuntadeira, seguiu também a profissão de sapateiro que começou por exercer em Beja. Filiou-se como membro do Sindicato dos Sapateiros de Beja, aos 15 anos, em 1912 e foi militante ativo das Juventudes Sindicalistas. Veio para Lisboa em 1928, já depois do golpe fascista de 28 de Maio de 1926 e numa altura em que as Juventudes Sindicalistas e a CGT eram alvo de grande repressão. Participou na Conferência Libertária em Belém em 1932. Ativista da Federação Portuguesa de Solidariedade, do Núcleo Cultural “Ferreira de Castro” e do Sporting Club do Rio Seco, foi também membro do Grupo Anarquista “Fanal”, no pós-25-4-1974, federado da FARP-FAI.
Artur Modesto, com quem convivi já na década de 70 contou-me um aspecto que não pude ainda confirmar: que o Despertar Sporting Clube de Beja, ainda hoje existente, foi fundado por membros da Juventude Sindicalista bejense que deram ao nóvel clube o nome do jornal que a organização anarco-sindicalista então editava: O Despertar. Fundado em 1920, o Despertar foi sempre considerado em Beja como um clube das camadas populares e, segundo Artur Modesto, muitos jovens depois do golpe de 28 de Maio e do ataque cerrado ao movimento libertário, com o encerramento das suas sedes e a prisão dos militantes mais conhecidos, usaram o clube para reuniões e algumas atividades de carácter sindical. Uma memória que foi esmorecendo no tempo, mas da qual ainda devem existir registos.
Poeta de raiz popular tem dois livros editados pela Editora Sementeira, Lisboa – “Páginas do Meu Caderno”, Dezembro-1978  e “Alfarrábio Poético” (em conjunto com os militantes Francisco Quintal e José Francisco), Janeiro-1984.

domingo, 12 de novembro de 2017

Acracia



Nas águas daquela fonte
Lavei
Minha alma juvenil,
Que já não volta.
Águas inquinadas
Recusei…
Por não serem as águas
Cristalinas
Daquela fonte
Que abracei!

sábado, 11 de novembro de 2017

ARTUR MODESTO: A luta em marcha


Não há cutelo que corte
Folhas à nova semente
Já que a acha do mais forte
Vai ruindo lentamente.
Soam os gritos de guerra
Do servo, branco ou preto,
Que bradam por toda a terra
O seu direito de veto.
O povo trabalhador
Não aceita a opressão
Marcha contra o opressor
Aos gritos de revolução.
A mulher escravizada
No mesmo pé de igualdade
Ergue na santa cruzada
O pendão da liberdade
Cavaleiros do futuro
Em destemidos corcéis
Vão desbravando o monturo
Desses destinos cruéis.
Destruir p’ra construir
É sua nobre missão
Como forças do porvir
Na guerra da redenção.
O estado e as camarilhas
Hão-de rolar pela terra
À luz de novas cartilhas
A razão da nossa guerra.
Pão, justiça, igualdade!
Jamais a lei do mais forte!
Pelo sol da liberdade
Contra o reinado da morte!